sábado, 9 de maio de 2009

Às vezes nossas vidas são ingratas.

Às vezes nossas vidas são ingratas.

Quando nascemos, será que nossos destinos já estão traçados?
Ou nós que os lapidamos durante nossas vidas?
Com o meu problema motor, por ser portador de uma tetraplégica, acabei conhecendo um mundo novo; Clinicas, hospitais e centros de reabilitações.
E consequentemente fui me envolvendo com outras pessoas que possuíam o mesmo problema que o meu e vários outros tipos enfermidade e deficiências.
E dois casos me chamaram a atenção; duas famílias, ambas de classe media, que nunca chegaram a se conhecer, mas suas histórias se fundem de uma maneira insólitas. Na qual lutam desesperadamente para tentar ajudar dois jovens rapazes a terem suas vidas normais de volta.
Alta madrugada toca o telefone da casa de uma das famílias, era do hospital municipal.
Ah!!! Último mergulho da noite, piscina maravilhosa, depois de churrasco na casa de um amigo do jovem rapaz. Até ai tudo normal, mas neste lastimável mergulho uma fatalidade... lá estava ele no fundo da piscina inconsciente ao bater com a cabeça e fraturar a coluna. A partir daquele momento sua vida e de sua família estaria marcada para sempre por este fatídico episodio. E lá estavam seus pais no hospital, a espera de informações...
Três horas da tarde de um lindo domingo a outra família procura seu filho, já temendo o pior. Era noite quando o encontraram, ele estava todo sujo só de calça, sem sapatos, sua mãe ao ver aquela cena deprimente desabou em lagrimas, o abraçou bem forte e o levaram para casa. A droga tinha consumido tudo, até sua dignidade.
Começavam ali as batalhas das famílias, ambas para salvarem seus filhos.
E sem querer nos perguntamos, será é o destino de cada um?
O primeiro jovem ficar numa cadeira de rodas para sempre?
E o segundo destruir sua vida como se não valesse nada.
Assim começa uma batalha contra o tempo;
1º Jovem - Depois da cirurgia uma triste noticia; ele está com uma grande deficiência motora; uma tetraplégica.
2º Jovem – Está internado numa clínica de reabilitação.
1º Jovem – Passa um mês no hospital.
2º Jovem – passa três meses na clinica e foge.
1º Jovem - está rodeado de amigo dando lhe força e vontade de viver.
2º Jovem – está sozinho e os poucos “amigos” que lhe resta o induzem as drogas.
1º Jovem – tenta de todas as formas sua reabilitação.
2º Jovem – cada dia mais dependente químico.
1º Jovem - Sua família vende e empresta dinheiro para tratamento de seu filho.
2º Jovem – rouba seus pais, para poder manter seu vicio.

Alguns meses depois...
Tive contato com as famílias novamente.

2º jovem – Por mais que seus pais lutaram contra essa “doença”, infelizmente não tiveram êxito. Ao ligar o radio em uma triste manhã de inverno ouve-se a notícia; “Jovem rapaz é encontrado morto...”.
Neste exato momento o copo de café quente que ainda exalava fumaça, se espatifar contra o chão, e o pressentimento de sua mãe era verdadeiro, pois era seu filho o rapaz da notícia...
E assim mais uma vida havia sido ceifada por está maligna praga que aos poucos vai comendo as almas de nossos jovens...
Enquanto isso...

1º Jovem – Ansioso pela chegada de seu pai, que havia saído para comprar um jornal. No qual havia a lista dos aprovados na OAB - ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Seu pai não havia nem aberto o jornal deixando assim a surpresa para todos em sua casa. Ao olhar a lista o jovem rapaz com uma tetraplégica motora oriunda de uma brincadeira de final de festas, exalou um sorriso!!! seu nome estava na lista de aprovado do exame. Eles não se contiveram em lagrimas, pois mesmo com todas as dificuldades impostas ao jovem, hoje ele era o mais novo advogado de sua cidade.
Se perguntássemos para mãe do 2º jovem; se ela pudesse interferi no destino; e em vez de ver seu filho morto nesta circunstância que ocorreu; ou ela preferisse que ele permanecesse numa cadeira de rodas pelo resto de sua vida ali ao seu lado. Com certeza ela ficaria com a segunda opção.
Por mais que seja doloroso para uma mãe ou pai ver seu filho numa cadeira de rodas, ainda sim, não se compara a perda de um jovem para guerra que é travada dia-a-dia em nossa sociedade e que infelizmente sempre saímos perdedores... Pois a vida continua...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Só aprendemos nas adversidades

Só aprendemos nas adversidades.

Puxa! Acabei de derrubar uma caneta no chão, é fácil, é só se agachar e pegar. Claro se você não tiver nenhum problema motor.
Estava sozinho em frente meu computador, sem querer esbarrei e derrubei alguns objetos e dentre eles uma caneta.
Quase todos os objetos tinham alguma saliência, com alguns poucos movimentos conseguia enroscar os dedos e puxa-los rente a roda da cadeira, e trazer até meu colo. E assim foi um a um até chegar o último, uma caneta.
Já estava exausto por me contorcer todo para apanhar os objetos. Mas lá estava ela. Poderia até gritar para alguém vir me ajudar. Mas não, era uma questão de honra eu apanha-la.
Ela estava ali tão perto de mim, mas ao mesmo tempo tão longe, uma caneta esferográfica azul dessa que encontramos aos montes por ai, sem tampa, nem sei se ainda escrevia, só que ela estava ali e aquilo me perturbava, tinha que apanha-la...
Enrosquei meu braço numa alça da cadeira de rodas, joguei meu corpo todo para o lado, o peso do corpo quase prendia minha respiração, junto ao braço da cadeira.
Na primeira tentativa apenas consegui traze-la um pouco mais próxima, na segunda me concentrei ainda mais, meu dedos fibrilarão, mandava tanta força que às vezes até parecia que iria conseguir move-los novamente. Mas nada. Consegui colocar ela numa posição; agora vai, e foi mesmo, para o chão novamente. Uma angustia tomou conta de mim.
Uma coisa tão simples e não damos o mínimo valor, quantas vezes acontece isso em nossas vidas e passa despercebido, agachamos, levantamos subimos uma escada, tão fácil, mas não damos o mínimo valor. Entretanto reclamamos de quase tudo.
Ah! Trabalhei como um condenado hoje. Oh! Vida brava!
Quantos queriam trabalhar e não podem.
Hoje vou de carro trabalhar, porque não gosto muito de andar e chegar suado ao serviço.
Quantos queriam apenas andar.
Que droga! Hoje ta chovendo e não vai dar para jogar futebol.
Quantos queriam apenas pode andar na chuva.
Hoje não vou à aula to com uma dorzinha de cabeça.
Quantos sentem dor, por ninguém os levarem a escola.
Nos seres humanos temos a mania de reclamar de tudo, mas quando acontece alguma adversidade em nossas vidas, passamos a enxergá-la de uma forma diferente, damos mais valor a certas coisas que jamais imaginamos antes.
E lá estava, eu e a caneta, parecia até ouvir seus pensamentos; - ah ele não vai conseguir – com certeza ira chamar alguém.
Mas eu nunca iria desistir, por mais intransponível que parecesse. Talvez antes desse meu pequeno problema motor. Quando era “normal”, eu até já tivesse desistido diante da imensa dificuldade que se encontra, pois uma pequena pedra no caminho era motivo para tal. Mas hoje é diferente.
Novamente me alinhei, respirei fundo, calmamente fui puxando ela contra a roda da cadeira, até poder alcançar com os dentes e segurar bem firme e soltá-la em meu colo.
Nesse instante parecia que tinha sido premiado, ganho na loteria, a felicidade era muito grande, pois havia ganhado uma enorme batalha, na qual eu venci sozinho, mesmo quando tudo parecia estar perdido. Com os olhos cheios de lagrimas, o coração pulsando a mil, com as limitações imposta, podemos vencer as adversidades da vida basta termos força de vontade e nunca desanimar na primeira tentativa. Pois a vida continua...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O Sonho

O Sonho
Acordei no meio da noite de um sonho, achei que ainda estava sonhando, dentro de outro sonho. Estranho isso, mas não queria acordar do sonho, que achei estar sonhando.
Por quê?
No sonho dentro do outro sonho, eu estava caminhando, com minhas próprias pernas, sem minha fiel companheira, minha cadeira de rodas.
Eu caminhava as margens de um rio cheio de pedras. Era engraçado! A água parecia ser bem gelada, mas eu não sentia. As pedras formavam pequenas ondas e com o leve borbulhar da água faziam uma leve manta de espuma límpida, que suavemente tocavam os cabelos de minhas pernas, mas continuava não sentindo.
Mudava os passos vagarosamente, com medo das pernas falharem. Estava sozinho. Podia ouvir claramente o barulho da água, que calmamente descia seu leito levando as folhas secas que se desprendiam das árvores com a leve brisa.
Minhas pernas estavam moles, mas ainda conseguia caminhar, parecia ser tão real, que lutava para não acordar do sonho dentro do sonho.
Infelizmente! Acordei, ao abrir meus olhos no meio da noite, veio à decepção, junto com a ilusão de que um dia isso possa a vir acontecer.
Tentei mexer os pés e nada. Fechei meus olhos e quis sentir a sensação de estar andado dento do rio, tentei buscar lá no fundo de meus pensamentos tais sensações que um dia senti, tristemente em vão.
Tentei dormir novamente, continuar o sonho de onde parei. Impossível! Mas adormeci.
Não tive tal sonho novamente, mas sim a dura realidade da vida, de acordar e ver ao lado da cama minha inseparável companheira. Provavelmente se ela pudesse me dizer algo; ela diria - sorria você esta vivo!
Ela passou a noite toda ali quietinha e não faz menção do que sonhei. Apenas ficou ali esperando o dia raiar, e eu me levantar, ou melhor, alguém me levantar, para sim ela me levar onde eu quisesse.
Depois de alguns anos, atrelado a uma cadeira de rodas, infelizmente esqueci algumas sensações boas da vida como; caminhar descalço pela grama, sentir o suor descendo pelo corpo depois de uma caminhada, dar aquela espreguiçada ao levantar, sentir a água quente ou fria que sai da torneira. Coisas simples, mas para um deficiente físico por uma paraplegia motora tais sensações ficam apenas na memória.
O engraçado é que quando era “normal” não dava o mínimo valor a essas pequenas coisas da vida e hoje fico buscando em vão.
Pelo menos nos sonhos, mesmo que seja dentro de outros, ainda sim posso sentir que um dia tive uma vida normal. Pois a vida Continua!!!