terça-feira, 26 de outubro de 2010

A “dor”

A “dor”

Acordei, com a luz incandescente dos primeiros raios de sol entrando pelas frestas da janela, podia ver as pequenas fagulhas de poeira brilhar ao entrarem em contado com luz natural que adentrava meu quarto. Os passarinhos já cantarolavam, sua sinfonia quase ensurdecedora, seus ferrolhos “gritavam” de fome esperando o alimento tão sagrado para a sua sobrevivência, ouvia a algazarra que faziam no beiral do forro. As flores do pé de pitanga desabrochavam, bem ao lado do meu quarto, exalavam seus perfumes, no qual era o chamariz das abelhas que vinham de longe com o zunido de suas asas buscarem o néctar para fazer seu adocicado mel.

Sabia que era hora de levantar. Mau, minhas dores tinham se acalmado. Meus pés, tinham desinchados, estavam finos e enrugado, ainda sentia uma pequena dor em minhas costas, pois havia dormido quase a noite toda na mesma posição. Mas sentia um grande alívio, pois as dores maiores tinham passado. Passei da cama para minha fiel e companheira de todos os dias.

A almofada da cadeira de rodas já tinha os contornos de minhas nádegas, ou melhor, dos ossos de minhas nádegas, pois depois de tantos anos de lesão não tinha nenhum músculo, se parecia com dois tomates um de cada lado, com um vermelhão só. Poucos minutos depois de levantado os meus pés já começavam a inchar novamente. Eu sabia que o dia ia ser terrível novamente.

Com o passar das horas meus pés queimavam, minhas costa pareciam que tinha agulhas que iam penetrando levemente, mas ardentemente em mim, parecia chegar até à alma, era constante e crônica “a dor”, vez ou outra - me mexia - dela para cá - para aliviar a dor, que teimava em aumentar. Infelizmente não tinha remédio para isso, a pouca sensibilidade que tenho é a dor que sinto.

Se conto isso para alguém, sempre ouço a mesma resposta; “é preferível não ter sensibilidade, do que ter ou conviver com essa dor”. Às vezes até chego a pensar nisso também. Mas por outro lado eu ainda sinto.

Agora, acabei de me mover tentando mudar o ponto de alivio... Nunca reclamei dessas dores, que infelizmente vários amigos com o mesmo tipo de lesão igual a mim compartilhamos, dessa angustiante caminhada, sem caminhar de todos os dias. Há momentos que parecem que estou no limite, as dores são tantas que da vontade de gritar, mas suporto. Estico as pernas tiro os sapatos, coloco os pés no piso gelado, alivia por alguns segundo. Mas a dor é intensa.

Logo chega a noite e ao me deitar, aos pouco vai aliviando, fecho os olhos, o sono vem batendo. Quando adormecer sei que por um tempo não sentirei nada, mas logo vem o dia novamente e tudo com ele, inclusive os pássaros, o perfume das flores o brilho do sol...

Ah!!! Como é bom estar vivo, poder sentir, ver, ouvir...Pois a vida continua!!!

3 comentários:

MIRIAN LEE disse...

Sua história de vida é fabulosa!
Preciso ir aí em Rolândia pegar um pouquinho desse otimismo seu pra mim...rsrsrsrs
Um beijo!

obs.: Me visita lá no blog quando sobrar um tempinho...

disse...

Olá João.... sao 00:54 da madruga, confesso q hj nao foi p mim um dia mto facil! Sou paciente de Esclerose Multipla, e "dia sim dia não, vou sobrevivendo sem um arranhão", como diria o mestre cazuza!
Embora nao tenha mtas sequelas, sei o q e viver com limitaçoes e "sensaçoes" q fogem ao nosso controle.
Gde desafio é o seu meu amigo! Gde desafio é o meu....Que sejamos fortes mesmo qdo estamos fracos...e q em meio ao nosso cenario cinza de dores, possamos ver o colorido dos passaros e findar o dia como vc tem findado, focando os passaros, o perfume das flores e o brilho do sol.
abraços Dá

Tânia T.Chechi disse...

OI LI TEUS TEXTOS E FIQUEI MT EMOCIONADA PQ TBM VIVO UMA HISTÓRIA PARECIDA COM A SUA SÓ Q É DA VIDA TODA DESDE Q NASCI
VC TENS MT TALENTO VAI EM FRENTE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ABRAÇO!!!