segunda-feira, 19 de março de 2012

RELEMBRAR O ONTEM

RELEMBRAR O ONTEM

Hoje, feriando aqui em minha cidade, dia de São José nosso padroeiro. Tarde tranquila com céu azul, sol brilhante, últimos dias de verão, já podendo sentir a leve brisa de outono ah! se o ano todo fosse esse clima, fresquinho de manha e calor maravilhoso à tarde, mas ai era querer de mais.

Nessa tarde deslumbrante, eu aqui no meu computador matando um pouco de tempo e viajando por esse universo imenso que é a internet. Recebi um e-mail de amigo, o conheço apenas virtualmente, ele acabara de me enviar um texto que ele próprio escreveu contando um pouco do que tinha acontecido com ele.

No seu texto ele dizia entre outras coisas, que tinha perdido uma das pernas em um acidente automobilístico. Por imprudência de outros. Contava também que havia passado muito tempo internado no hospital até se restabelecer, e das suas dificuldades em aceitar o que tinha acontecido com ele.

Ao ler suas palavras, suas frases me fez relembras dos dias que também passei no hospital, as angústias de ficar ali, ora acordado, ora sonolento pelas medicações que ingeríamos, ouvindo os passos dos enfermeiros que andavam de um lado para o outro. Engraçado que nos tivemos lesões diferentes, mas o tratamento as angústia eram iguais.

Numa dessas frases ele descrevia como era seus banhos no hospital. Sempre em dupla os enfermeiros, às vezes eram homens, ou só mulheres ou ambos, mas o constrangimento era sempre igual.

Você ali despido, as pessoas te tocando, com um pano úmido, passando em suas entranhas e você ali imóvel. Muitas vezes com vontade de chorar, rezando para que terminasse logo. Somos frágeis de carne. Mas somos uma fortaleza de alma isso que nos da força de seguir em frente e superar essas barreiras que parecem ser insuperáveis.

Como meu amigo disse no seu texto, esses “banhos” pareciam ser um “lava rápido” aqueles que você entra com seu carro e sai do outro lado, meio limpo - meio sujo. Mas a sensação era a mesma que eu senti, e que ele também sentiu.

Infelizmente eu ou meu amigo não fomos e nem seremos os últimos que passamos por isso. Outras pessoas iram prova esse desabor que a vida nos prega.

Mas a uma coisa boa nisso tudo, tanto eu como ele sobrevivemos. Hoje dou valor até a última gota de água que cai do chuveiro, pois “lava rápido ou panos úmidos” só em histórias para contar.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"Chuva"

“Pelas longas estradas da vida” nos deparamos sempre com o desconhecido. Quanto mais vivemos, mais obstáculos aparecem. Alguns desses parecem ser instransponíveis nos obrigando a retornar, e é ai que mora o perigo, a depressão o desânimo vem acompanhado esse inevitável retorno.

Chovia muito, já era 22h30min. O professor finaliza a aula, podia ouvir o ruído das calhas escoando a agua corrente que descia impiedosamente pelo telhado formando em alguns pontos o barulho de pequenas cachoeiras. Aos poucos a sala de aula foi se esvaziando.

E eu ali pensando como ia para casa.

Fui descendo a rampa escorregadia, pois o orvalho que entrava pela janela aberta dos corredores assim a deixava. A chuva cada minuto aumentava. Ao fundo ouvia o clique dos deligar das luzes dos corredores da faculdade, onde o zelador com a rotina de seu emprego o fazia todos os dias.

Praticamente ali sobrava eu e apenas uma meia dúzia de alunos esperando incansavelmente a chuva passar. Mas ela teimava em aumentar a cada minuto. A enxurrada já não sendo vencida pelos bueiros formava uma grande correnteza quase alcançando à calçada.

Um a um foi se esvaindo dali sobrando apenas eu.

Então resolvi encarar a chuva!

A principio foi maravilhoso, apesar da chuva intensa fazia calor, ela veio a refrescar o corpo, a alma. A agua batia no rosto escorrendo pela pele parecendo ser uma massagem natural, eu e minha fiel cadeira de rodas estávamos a “passos largo” muito mais que o habitual, os carros passava bem ao lado, levantando aquela nuvem de agua pela rua afora, não se via mais nenhuma pessoa apenas eu e meu “corcel negro”. Já estava quase no meio do caminho com toda aquela agua abençoada que vinha do céu.

Mas ai para deixar a noite mais quente, um buraco!!! Hum um buraco!!!

A agua avermelha o encobria, quase fui para o chão, por pouco, muito pouco não afoguei minhas magoas numa possa, nem tão longe da faculdade e nem tão perto de minha casa.

Mal sai da imensa poça de agua e caminhei, andei ou sei lá rodei mais alguns metros e a cadeira parou de vez acho que pelo excesso da chuva. Eu ali no meio do caminho não via ninguém passar a chuva era intensa, estava todo molhado subiu uma tristeza enorme. De uma simples chuva que refrescava, estava ali inercie diante daquela situação, não restando alternativa se não ligar para minha mãe vir ao meu encalço.

A se não fosse a tecnologia ter um celular sempre à mão, não sei o que faria, assim que tocou o telefone ela já sabia que algo havia acontecido, então pegou sua sobrinha e saiu.

A chuva era forte, eu ali estagnando, com a boca amarga sem ter o que fazer se não espera, passando um filme pela minha cabeça, com uma mistura de raiva, revolta, mas ao mesmo tempo de felicidade de poder estar vivo, sentir a chuva, ver a água correndo, com vontade de gritar para que todos me ouvissem e ao mesmo tempo ficar quieto para que ninguém me veja que não tenha pena de mim por estar ali imóvel molhado parecendo uma pessoa indefessa, pois não é assim que me sinto, pois sim é isso que me da forças para que o amanha eu esteja preparado para outras adversidade, que seja maiores ou menores, mas sim lembrar que eu estou vivo. E bem ao longe eu vejo minha mãe “por essa longa estrada da vida”.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A “dor”

A “dor”

Acordei, com a luz incandescente dos primeiros raios de sol entrando pelas frestas da janela, podia ver as pequenas fagulhas de poeira brilhar ao entrarem em contado com luz natural que adentrava meu quarto. Os passarinhos já cantarolavam, sua sinfonia quase ensurdecedora, seus ferrolhos “gritavam” de fome esperando o alimento tão sagrado para a sua sobrevivência, ouvia a algazarra que faziam no beiral do forro. As flores do pé de pitanga desabrochavam, bem ao lado do meu quarto, exalavam seus perfumes, no qual era o chamariz das abelhas que vinham de longe com o zunido de suas asas buscarem o néctar para fazer seu adocicado mel.

Sabia que era hora de levantar. Mau, minhas dores tinham se acalmado. Meus pés, tinham desinchados, estavam finos e enrugado, ainda sentia uma pequena dor em minhas costas, pois havia dormido quase a noite toda na mesma posição. Mas sentia um grande alívio, pois as dores maiores tinham passado. Passei da cama para minha fiel e companheira de todos os dias.

A almofada da cadeira de rodas já tinha os contornos de minhas nádegas, ou melhor, dos ossos de minhas nádegas, pois depois de tantos anos de lesão não tinha nenhum músculo, se parecia com dois tomates um de cada lado, com um vermelhão só. Poucos minutos depois de levantado os meus pés já começavam a inchar novamente. Eu sabia que o dia ia ser terrível novamente.

Com o passar das horas meus pés queimavam, minhas costa pareciam que tinha agulhas que iam penetrando levemente, mas ardentemente em mim, parecia chegar até à alma, era constante e crônica “a dor”, vez ou outra - me mexia - dela para cá - para aliviar a dor, que teimava em aumentar. Infelizmente não tinha remédio para isso, a pouca sensibilidade que tenho é a dor que sinto.

Se conto isso para alguém, sempre ouço a mesma resposta; “é preferível não ter sensibilidade, do que ter ou conviver com essa dor”. Às vezes até chego a pensar nisso também. Mas por outro lado eu ainda sinto.

Agora, acabei de me mover tentando mudar o ponto de alivio... Nunca reclamei dessas dores, que infelizmente vários amigos com o mesmo tipo de lesão igual a mim compartilhamos, dessa angustiante caminhada, sem caminhar de todos os dias. Há momentos que parecem que estou no limite, as dores são tantas que da vontade de gritar, mas suporto. Estico as pernas tiro os sapatos, coloco os pés no piso gelado, alivia por alguns segundo. Mas a dor é intensa.

Logo chega a noite e ao me deitar, aos pouco vai aliviando, fecho os olhos, o sono vem batendo. Quando adormecer sei que por um tempo não sentirei nada, mas logo vem o dia novamente e tudo com ele, inclusive os pássaros, o perfume das flores o brilho do sol...

Ah!!! Como é bom estar vivo, poder sentir, ver, ouvir...Pois a vida continua!!!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Artigo sobre meus Livros

UM ESCRITOR QUE VEM DO PARANÁ

Adísia Sá

O Brasil tem bons ficcionistas, sim, escritores que ganham prêmios e tem seus livros em vitrines e anunciados em revistas nacionais. Leio alguns desses livros e chego à conclusão de que seus autores realmente merecem o destaque recebido, inclusive críticas favoráveis de comentaristas conhecidos. Mas há, também, aqueles que lançam livros e circulam em recintos mais fechados, sem que, com isto, estejam abaixo dos festejados.

Do Paraná, mais precisamente de Rolândia, recebo, por intermédio de minha sobrinha Maria Yvonee, dois livros de um jovem talentoso e promissor autor. Estou falando em João Manoel Ardigo. “Uma nova vida em minha vida” – narrativa de uma tragédia que se abateu sobre o autor, então cidadão trabalhador, chefe de família, filho amoroso e pai de uma criança, razão de ser de sua existência. Em pleno exercício de seu trabalho, foi vítima de um acidente que o tornou tetraplégico . Sua vida saiu do eixo e se assentou noutro. Caiu um moço cheio de sonhos e ergueu-se um gigante de fé, coragem, entusiasmo. Os dias , antes do acidente, corriam no previsível dos projetos. No correr do tempo surgiu um homem rico de fé, de força de vontade, de exemplo, modelo. Modelo, sim, modelo : da dor, a alegria de viver; da dependência, o encontro de soluções surpreendentes; do moço de poucas letras, o acadêmico de Direito; de anotador de mercadorias, o escritor.

“Quando as dificuldades trazem a solução” , seu mais recente livro ...

Nada de pieguismo, de conselhos flor de laranja, de apelos à piedade. Não, não: uma luz abrindo ... mostrando caminhos.

João Manoel Ardigo me diz que outros livros virão : um deles, espero, lançado em Fortaleza. Quero que todos os cearenses o conheçam . Pena que o nosso “cadeira voadora” não mais esteja entre nós para , com João Manoel Ardigo, correrem esta Fortaleza de ponta a ponta. Outros cadeirantes se juntarão a ele. Tenho certeza.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Causos e Acasos de um Deficiente Físico.

Causos e Acasos de um Deficiente Físico.

Estava andando rápido com meu “corcel negro”, um cavalo de pura potencia, com o quatro pneus novinhos em folha e vinha acelerando na potencia máxima, pois estava atrasado para a faculdade e minha primeira aula do dia era prova.
Estava olhando para o chão, desviando dos buracos da calçada, ou melhor, tentando andar na pouca calçada que restava, mas infelizmente isso é normal em todas as cidades que conheço.
De repente ao desviar de um desses buracos quase atropelo uma senhora de idade já avançada quem vinha em minha direção.
Nossa!!! Que susto levei, pois estava muito distraído. Mas parei a tempo de acontecer coisa pior.
E ali estava eu, bem a sua frente, ela aparentava ter uns 80 anos, não aparentava traços de ter tido uma vida sofrida, usava um batom vermelho, um chalé de rendas em seus ombros, uma sobrinha na sua mão e estava toda perfumada, mas ainda estava ali bem a minha frente.
Pedi desculpas a ela por quase tê-la atropelada.
- ela disse que não foi nada. – pedi licença a ela e assim que ia saindo, pois estava muito atrasado - ela pergunto?
- Filho que aconteceu com você?
Respirei fundo e respondi.
- Foi um acidente, um caminhão me atropelou.
Meu Deus!!! E ela fez o Sinal da Cruz em seguida. Achei engraçado. – mas você quebrou as pernas e não consegue andar mais.
E eu muito atrasado para a aula disse; que havia quebrado o pescoço em dois lugares. Porque seu eu disse que havia fraturado duas vértebras da coluna cervical, e ter tido um trauma Medular no qual havia deixa as sequelas de uma tetraplegia motora, acredito que ela não iria entender, quis apenas simplificar e apenas disse: que havia quebrado o pescoço em dois lugar.
Ela abriu um sorriso imenso e não parava de gargalhar. Achei muito estranho a sua reação. Realmente não entendia o motivo de suas gargalhadas e pergunte; qual o motivo das suas risadas minha senhora?
Ela ficou séria e me disse:
- Olha meu rapaz, eu posso ser velha, mas não sou ingênua, onde já se viu quebrar o pescoço e estar aqui vivo.
- Ai que começo a dar risadas fui eu.
E ela continuou – quando eu morava lá fazenda pra - lá de longe e “nóis quebrava os pescoços das galinhas e elas morriam de tanto se bater”, você vem me falar que você quebrou o pescoço. Ah! Rapaiz.
Puxa! Fique atônito sem saber o que dizer para ela. Tentei explicar de varia formas até usando termos mais científicos mais em vão.
Eu já te tinha esquecido até que estava atrasado. De todas as formas que tentava explicar sempre acabava ouvindo a mesma resposta dela.
- Galinha que quebra o pescoço morre viu seu mocinho. Ela olhou para mim e disse agora vou embora ta... Mas galinha que... E assim com sua sobrinha a mão, ela foi caminhando lentamente e resmungando ate sumir de minhas vista...
Eu ainda meio abobalhado com a situação inusitada, acelerei meu corcel negro a todo vapor e ainda sim consegui chegar a tempo de fazer a prova... Mas ser considera uma galinha com o pescoço quebrado foi o Maximo... (risos) Pois a vida continua...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Por quê Comigo?

Por Que Comigo?
Essa é a primeira pergunta que nos fazemos quando sofremos um trauma. E a cada dia que acordados nos refazemos a mesma pergunta...
Por que comigo?
Ninguém em suas vidas espera passar por algo assim tão doloroso.
De repente estar em local com milhares de pessoas, você olha para os lados e percebe que só você esta em uma cadeira de rodas e novamente se fazer a pergunta...
Por que comigo?
Estar passeando pelo shopping, olhando as vitrines e perceber seu reflexo em uma cadeira de rodas e alguém lhe empurrando, ir ao cinema, ter que assistir ao filme na primeira fileira, pois é o único local apropriado para cadeirantes e olhar para cima e ver todos aqueles assentos livres e você não poder estar lá, e se pergunta...
Por que comigo?
Você acaba sentindo um gosto amargo na boca, uma derrota interior que toma conta de si e perceber que você esta impotente diante de tal situação e novamente refazer a pergunta.
Por que comigo?
Sim!!! Foi comigo porque sou forte e Deus me da toda a força que necessito para combater as adversidades do dia-a-dia, e provar que sou tão normal quanto qualquer um e assim posso acordar todos os dia e dizer estou vivo e dizer ainda bem que foi comigo... Pois a vida continua...

sábado, 9 de maio de 2009

Às vezes nossas vidas são ingratas.

Às vezes nossas vidas são ingratas.

Quando nascemos, será que nossos destinos já estão traçados?
Ou nós que os lapidamos durante nossas vidas?
Com o meu problema motor, por ser portador de uma tetraplégica, acabei conhecendo um mundo novo; Clinicas, hospitais e centros de reabilitações.
E consequentemente fui me envolvendo com outras pessoas que possuíam o mesmo problema que o meu e vários outros tipos enfermidade e deficiências.
E dois casos me chamaram a atenção; duas famílias, ambas de classe media, que nunca chegaram a se conhecer, mas suas histórias se fundem de uma maneira insólitas. Na qual lutam desesperadamente para tentar ajudar dois jovens rapazes a terem suas vidas normais de volta.
Alta madrugada toca o telefone da casa de uma das famílias, era do hospital municipal.
Ah!!! Último mergulho da noite, piscina maravilhosa, depois de churrasco na casa de um amigo do jovem rapaz. Até ai tudo normal, mas neste lastimável mergulho uma fatalidade... lá estava ele no fundo da piscina inconsciente ao bater com a cabeça e fraturar a coluna. A partir daquele momento sua vida e de sua família estaria marcada para sempre por este fatídico episodio. E lá estavam seus pais no hospital, a espera de informações...
Três horas da tarde de um lindo domingo a outra família procura seu filho, já temendo o pior. Era noite quando o encontraram, ele estava todo sujo só de calça, sem sapatos, sua mãe ao ver aquela cena deprimente desabou em lagrimas, o abraçou bem forte e o levaram para casa. A droga tinha consumido tudo, até sua dignidade.
Começavam ali as batalhas das famílias, ambas para salvarem seus filhos.
E sem querer nos perguntamos, será é o destino de cada um?
O primeiro jovem ficar numa cadeira de rodas para sempre?
E o segundo destruir sua vida como se não valesse nada.
Assim começa uma batalha contra o tempo;
1º Jovem - Depois da cirurgia uma triste noticia; ele está com uma grande deficiência motora; uma tetraplégica.
2º Jovem – Está internado numa clínica de reabilitação.
1º Jovem – Passa um mês no hospital.
2º Jovem – passa três meses na clinica e foge.
1º Jovem - está rodeado de amigo dando lhe força e vontade de viver.
2º Jovem – está sozinho e os poucos “amigos” que lhe resta o induzem as drogas.
1º Jovem – tenta de todas as formas sua reabilitação.
2º Jovem – cada dia mais dependente químico.
1º Jovem - Sua família vende e empresta dinheiro para tratamento de seu filho.
2º Jovem – rouba seus pais, para poder manter seu vicio.

Alguns meses depois...
Tive contato com as famílias novamente.

2º jovem – Por mais que seus pais lutaram contra essa “doença”, infelizmente não tiveram êxito. Ao ligar o radio em uma triste manhã de inverno ouve-se a notícia; “Jovem rapaz é encontrado morto...”.
Neste exato momento o copo de café quente que ainda exalava fumaça, se espatifar contra o chão, e o pressentimento de sua mãe era verdadeiro, pois era seu filho o rapaz da notícia...
E assim mais uma vida havia sido ceifada por está maligna praga que aos poucos vai comendo as almas de nossos jovens...
Enquanto isso...

1º Jovem – Ansioso pela chegada de seu pai, que havia saído para comprar um jornal. No qual havia a lista dos aprovados na OAB - ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Seu pai não havia nem aberto o jornal deixando assim a surpresa para todos em sua casa. Ao olhar a lista o jovem rapaz com uma tetraplégica motora oriunda de uma brincadeira de final de festas, exalou um sorriso!!! seu nome estava na lista de aprovado do exame. Eles não se contiveram em lagrimas, pois mesmo com todas as dificuldades impostas ao jovem, hoje ele era o mais novo advogado de sua cidade.
Se perguntássemos para mãe do 2º jovem; se ela pudesse interferi no destino; e em vez de ver seu filho morto nesta circunstância que ocorreu; ou ela preferisse que ele permanecesse numa cadeira de rodas pelo resto de sua vida ali ao seu lado. Com certeza ela ficaria com a segunda opção.
Por mais que seja doloroso para uma mãe ou pai ver seu filho numa cadeira de rodas, ainda sim, não se compara a perda de um jovem para guerra que é travada dia-a-dia em nossa sociedade e que infelizmente sempre saímos perdedores... Pois a vida continua...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Só aprendemos nas adversidades

Só aprendemos nas adversidades.

Puxa! Acabei de derrubar uma caneta no chão, é fácil, é só se agachar e pegar. Claro se você não tiver nenhum problema motor.
Estava sozinho em frente meu computador, sem querer esbarrei e derrubei alguns objetos e dentre eles uma caneta.
Quase todos os objetos tinham alguma saliência, com alguns poucos movimentos conseguia enroscar os dedos e puxa-los rente a roda da cadeira, e trazer até meu colo. E assim foi um a um até chegar o último, uma caneta.
Já estava exausto por me contorcer todo para apanhar os objetos. Mas lá estava ela. Poderia até gritar para alguém vir me ajudar. Mas não, era uma questão de honra eu apanha-la.
Ela estava ali tão perto de mim, mas ao mesmo tempo tão longe, uma caneta esferográfica azul dessa que encontramos aos montes por ai, sem tampa, nem sei se ainda escrevia, só que ela estava ali e aquilo me perturbava, tinha que apanha-la...
Enrosquei meu braço numa alça da cadeira de rodas, joguei meu corpo todo para o lado, o peso do corpo quase prendia minha respiração, junto ao braço da cadeira.
Na primeira tentativa apenas consegui traze-la um pouco mais próxima, na segunda me concentrei ainda mais, meu dedos fibrilarão, mandava tanta força que às vezes até parecia que iria conseguir move-los novamente. Mas nada. Consegui colocar ela numa posição; agora vai, e foi mesmo, para o chão novamente. Uma angustia tomou conta de mim.
Uma coisa tão simples e não damos o mínimo valor, quantas vezes acontece isso em nossas vidas e passa despercebido, agachamos, levantamos subimos uma escada, tão fácil, mas não damos o mínimo valor. Entretanto reclamamos de quase tudo.
Ah! Trabalhei como um condenado hoje. Oh! Vida brava!
Quantos queriam trabalhar e não podem.
Hoje vou de carro trabalhar, porque não gosto muito de andar e chegar suado ao serviço.
Quantos queriam apenas andar.
Que droga! Hoje ta chovendo e não vai dar para jogar futebol.
Quantos queriam apenas pode andar na chuva.
Hoje não vou à aula to com uma dorzinha de cabeça.
Quantos sentem dor, por ninguém os levarem a escola.
Nos seres humanos temos a mania de reclamar de tudo, mas quando acontece alguma adversidade em nossas vidas, passamos a enxergá-la de uma forma diferente, damos mais valor a certas coisas que jamais imaginamos antes.
E lá estava, eu e a caneta, parecia até ouvir seus pensamentos; - ah ele não vai conseguir – com certeza ira chamar alguém.
Mas eu nunca iria desistir, por mais intransponível que parecesse. Talvez antes desse meu pequeno problema motor. Quando era “normal”, eu até já tivesse desistido diante da imensa dificuldade que se encontra, pois uma pequena pedra no caminho era motivo para tal. Mas hoje é diferente.
Novamente me alinhei, respirei fundo, calmamente fui puxando ela contra a roda da cadeira, até poder alcançar com os dentes e segurar bem firme e soltá-la em meu colo.
Nesse instante parecia que tinha sido premiado, ganho na loteria, a felicidade era muito grande, pois havia ganhado uma enorme batalha, na qual eu venci sozinho, mesmo quando tudo parecia estar perdido. Com os olhos cheios de lagrimas, o coração pulsando a mil, com as limitações imposta, podemos vencer as adversidades da vida basta termos força de vontade e nunca desanimar na primeira tentativa. Pois a vida continua...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O Sonho

O Sonho
Acordei no meio da noite de um sonho, achei que ainda estava sonhando, dentro de outro sonho. Estranho isso, mas não queria acordar do sonho, que achei estar sonhando.
Por quê?
No sonho dentro do outro sonho, eu estava caminhando, com minhas próprias pernas, sem minha fiel companheira, minha cadeira de rodas.
Eu caminhava as margens de um rio cheio de pedras. Era engraçado! A água parecia ser bem gelada, mas eu não sentia. As pedras formavam pequenas ondas e com o leve borbulhar da água faziam uma leve manta de espuma límpida, que suavemente tocavam os cabelos de minhas pernas, mas continuava não sentindo.
Mudava os passos vagarosamente, com medo das pernas falharem. Estava sozinho. Podia ouvir claramente o barulho da água, que calmamente descia seu leito levando as folhas secas que se desprendiam das árvores com a leve brisa.
Minhas pernas estavam moles, mas ainda conseguia caminhar, parecia ser tão real, que lutava para não acordar do sonho dentro do sonho.
Infelizmente! Acordei, ao abrir meus olhos no meio da noite, veio à decepção, junto com a ilusão de que um dia isso possa a vir acontecer.
Tentei mexer os pés e nada. Fechei meus olhos e quis sentir a sensação de estar andado dento do rio, tentei buscar lá no fundo de meus pensamentos tais sensações que um dia senti, tristemente em vão.
Tentei dormir novamente, continuar o sonho de onde parei. Impossível! Mas adormeci.
Não tive tal sonho novamente, mas sim a dura realidade da vida, de acordar e ver ao lado da cama minha inseparável companheira. Provavelmente se ela pudesse me dizer algo; ela diria - sorria você esta vivo!
Ela passou a noite toda ali quietinha e não faz menção do que sonhei. Apenas ficou ali esperando o dia raiar, e eu me levantar, ou melhor, alguém me levantar, para sim ela me levar onde eu quisesse.
Depois de alguns anos, atrelado a uma cadeira de rodas, infelizmente esqueci algumas sensações boas da vida como; caminhar descalço pela grama, sentir o suor descendo pelo corpo depois de uma caminhada, dar aquela espreguiçada ao levantar, sentir a água quente ou fria que sai da torneira. Coisas simples, mas para um deficiente físico por uma paraplegia motora tais sensações ficam apenas na memória.
O engraçado é que quando era “normal” não dava o mínimo valor a essas pequenas coisas da vida e hoje fico buscando em vão.
Pelo menos nos sonhos, mesmo que seja dentro de outros, ainda sim posso sentir que um dia tive uma vida normal. Pois a vida Continua!!!

domingo, 25 de maio de 2008

Tetraplégico Dirigindo

Dois anos após meu acidente pude novamente sentir o sabor da liberdade. Ao abrir o vidro do carro e sentir o vento batendo em meu rosto, podendo sentir como se fosse uma pessoa normal novamente, não que não seja, mas sem ninguém ao meu lado ou me empurrando numa cadeira de rodas. Foi assim que me senti quando voltei a dirigir uma sensação maravilho quase que se estivesse caminhando novamente foi inexplicável...

Mesmo sendo tetraplégicos podemos sim dirigir e com as adaptações necessária e alguns movimentos nos braço podemos tirar habilitação novamente.
Segue abaixo meu vídeo dirigindo:

http://www.youtube.com/watch?v=-P1swqS3CQE

domingo, 6 de abril de 2008

Meu segundo Livro.


Quando as dificuldades trazem a solução
Quando resolvi voltar estudar - depois de quase quinze anos afastado de uma sala de aula - com um sério problema motor, por ser deficiente físico, não sonhava com as maravilhas que viessem a acontecer, só imaginava que teria mil barreiras.
Mas, quando entrei pela primeira vez na sala de aula, recheada de adolescentes, com seus sonhos, suas tribos, suas manias e nenhum preconceito, a falta de acessibilidade que imaginei se rompeu num só minuto, dando-me a oportunidade de estar novamente incluso na sociedade. Não que estivesse totalmente fora dela, mas meu retorno me fez esquecer minhas limitações, voltar a sonhar, perceber que posso amar novamente.
Foram dois curtos anos, convivendo com adolescentes, partilhando de seus sonhos, suas decepções, suas paixões. Mas, o fato a que dou maior importância foi poder perceber as limitações, a mim impostas pela vida, como coisas que não interferiram no dom do aprendizado, por final tive uma revelação e tomei uma grande decisão.
Narro aqui as lições de vida do breve período que Deus me proporcionou ao lado de pessoas maravilhosas. Voltei a um passado recente, mesmo estando ligado ao presente, e reescrevi o futuro próximo.

Meu primeiro Livro.


UMA NOVA VIDA EM MINHA VIDA

Bem o que narro aqui são fatos que aconteceram durante sete anos de minha vida. Fatos estes que me deram muita tristeza, as quais tento transformar na mais pura alegria.
O sofrimento não deve ser levado como penitência ou castigo e sim a oportunidade de aprender melhor sobre o que a vida nos oferece, é como se fosse uma segunda chance que para a maioria das pessoas isso não ocorre.
Para quem tinha toda uma vida pela frente e num segundo, um carro quebrado, um outro vindo em nossa direção, uma luz forte e o tempo de uma frase “vai baterrrrrr.....”, e pronto tudo perdido.
E aqui estou eu, hoje com 33 anos e tetraplégico buscando absorver e entender o que de melhor a vida tem para me oferecer e eu a ela. Renascer, ter que aprender tudo de novo como se fosse um bebê, e assim eu fiz. Mesmo em algumas situações que parecem não ter saída e por vezes acabo me questionando será que “Deus” existe? E eu mesmo com todo o ocorrido eu me respondo, sim “Ele” existe!
Pois a vida continua.....

Resenha

ARDIGO, João Manoel. Quando as dificuldades trazem a solução, pois a vida continua....
Londrina: Tuicial, 2007.110 p.

“Em 1989, cometi a maior “burrada” de minha vida. Com 17 anos achava que sabia tudo sobre a vida e, levado pelo sonho da maioria dos jovens da minha idade, queria ser jogador de futebol.”

É assim que começa o livro Quando as dificuldades trazem a solução, pois a vida continua..., de João Manoel Ardigo (Editora Tuicial, 2007), jovem escritor que, atualmente, cursa o segundo ano de Letras em uma Faculdade no interior do Paraná. Bom, o personagem central e narrador de livro é um rapaz, vivendo numa cidadezinha do interior paranaense. Notou alguma similaridade entre a vida e a obra, leitor? Isso mesmo. Como diriam os letreiros das novelas e filmes, só que neste caso ao avesso: qualquer semelhança com a realidade NÃO é mera coincidência!
É verdade! João Manoel relata a sua experiência escolar após um acidente que lhe tirou a capacidade de andar. De fato, ele ficou tetraplégico, mas, numa reação muito inteligente, em curto espaço de tempo viu que teria de se adaptar. Ora bolas, adaptou-se! E passou a contar suas aventuras! Olhe, mas só vale a pena ler se você for um leitor corajoso. Um leitor (sim, pode mesmo ser uma leitora...) que tenha a coragem de reconhecer a coragem do João e até de reconhecer-se, às vezes, no João e pensar a vida através da vida do João. Porque ele nos dá lições....
Quando as dificuldades trazem a solução mostra que, na escola, tantas emoções retornaram... e se você achar que são emoções não vividas a seu tempo, não terá compreendido a verdadeira lição da sua jornada: ele viveu as emoções no tempo certo, o tempo que possuía, o tempo presente, o tempo em que poderia saboreá-las. Mania estranha essa a nossa de ficar achando que isso ou aquilo já devia ter acontecido ou não devia ter acontecido, não é?
Numa linguagem simples, como se estivesse contando um “causo” para os vizinhos, João relata o motivo pelo qual voltou a estudar, o interesse renovado pelo conhecimento, as paqueras, o relacionamento com os amigos, as dificuldades de alguém que, estando adolescente, precisava depender de outros para se sair bem no cotidiano escolar.
A coragem desse rapaz, autor de sua história de vida, a própria vivacidade com que conta essa história e o modo como transforma trechos quase dramáticos em solene agradecimento por estar vivo são coisas que merecem ser (re)conhecidas.

P.S.: João Manoel também escreveu o livro E a vida continua..., no qual relata o acidente e as novas necessidades com as quais passou a conviver. Claro que vale a pena ler! Mas falo dele um outro dia, ok?